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A RELEVÂNCIA DE UM PROFESSOR
UM PROFESSOR É, EM PRIMEIRO LUGAR, UM ALUNO COM MAIS EXPERIÊNCIA. 

São diversas as necessidades que motivam uma pessoa a iniciar uma prática de Yoga e cada uma dessas necessidades contém em si a pertinência do tema deste texto – a relevância do Professor de Yoga.

Em tempos onde um clic dá acesso a um infinito número de aulas oferecidas por qualquer figura, em qualquer plataforma digital ou rede social, por valores irrisórios ou até gratuitos, a figura do professor de Yoga parece ter-se tornado totalmente descartável.

A prática, agora reconhecida e promovida em formato “DIY”, como acontece aliás com qualquer coisa, está na moda. Se veio para ficar? Talvez.

“A relação professor/aluno deixa de existir quando o aluno se posiciona como cliente e vê no professor não uma inspiração mas um prestador de serviços, igual a tantos outros disponíveis para o servir.”

Estamos muito longe da relação de respeito professor/aluno descrita nos Vedas e durante tantos anos praticada. O professor, seja qual for a sua área, é visto actualmente como um prestador de serviços altamente dispensável e facilmente substituído e o aluno veste agora o papel de cliente que pretende estabelecer o valor do professor e a sua forma de ensinar. Enquanto a relação aluno/professor for vista como relação cliente/prestador predominará a insustentabilidade do sistema educativo e seguramente a transmissão do Yoga para além do asana. Principalmente porque ao Professor de Yoga não interessa ensinar asana mas ajudar o aluno a realizar a auto-transformação que o trará a um novo paradigma de Vida: Viver pleno e responsável pelas suas acções.

  • Qual a relevância de um Professor de Yoga na actualidade?

O Professor de Yoga não é um arquitecto de asana que pretende deixar tudo lindo e alinhado. O Professor de Yoga está mais para engenheiro de obra que percebe o asana como espelho dos desafios, padrões e história pessoais que bloqueiam ou dificultam o caminho para o auto-conhecimento. Para ser Professor de Yoga não basta, apesar de ser importante, saber fazer e demonstrar a postura, isso seria altamente redutor e não muito diferente de um professor de ginástica, artes circenses ou BTS. Para ser Professor de Yoga há que conhecer a postura sim mas acima de tudo perceber o seu funcionamento na engenharia interior do corpo humano e enquadramento no corpo de conhecimento do Yoga. Há ainda que saber adequar o ensinamento à maturidade de quem o procura e ter a paciência e sabedoria de o transmitir ao ritmo de aprendizagem do aluno. Não basta ser versado em técnicas pedagógicas e didácticas e um pouco de psicologia comportamental. Para ser Professor de Yoga é necessário ter andado por este caminho, ter passado tempo neste caminho e sobretudo tê-lo feito com um bom guia.

Ser Professor de Yoga não é uma tarefa tão fácil como parece. Ao ensinar novos professores de Yoga percebo que muitos deles não são sequer ainda praticantes. Na verdade muitos não são sequer alunos. O curso de Yoga serve nestes casos apenas como uma porta de entrada tão válida como as aulas regulares de Yoga. Não se trata de desvalorizar a formação de Yoga nem de enaltecer as aulas de asana, trata-se sim de deixar claro que o entusiasmo em aprender deve ser o grande motivador para iniciar a prática de Yoga. O que começou por um desafio ou necessidade vira rapidamente um encantamento e é bom que assim seja. Mas isso é apenas o início. Existem coisas que não se aprendem, não se ensinam e uma delas é a ser Professor de Yoga. Para ser Professor de Yoga é fundamental ser sobretudo um aluno, um aluno disciplinado na prática, no estudo, na exposição ao ensinamento e ter um Professor, num reconhecimento humilde de quem não sabe tudo e honestidade em relação àquilo que se sabe.

Além disso, é desejável manter uma atitude de desapego perante o aluno, perante o acto de ensinar. O ensinamento não depende apenas de quem ensina, depende da disponibilidade de quem aprende. O processo não depende apenas do professor mas também do aluno e o aluno é uma pessoa em transformação. Todos os dias diferente, todos os dias livre. Nunca nosso.

Um professor necessita também ele de um Professor. Um Professor que espelhe as armadilhas em que facilmente se cai. As armadilhas do auto-julgamento por “vestir” as expectativas, projecções e frustrações dos alunos. As armadilhas da auto-promoção por cair na ilusão da vida social digital que confunde a relação professor/aluno como uma relação cliente/prestador. As armadilhas do ego que nos fazem esquecer que somos alunos, pessoas normais que também estão no processo de ensino aprendizagem como aprendizes, tentando e dando o melhor de si como professores.

Como professora, creio que o maior dever é incentivar e entusiasmar o aluno a praticar sem medo de se descobrir, de se transformar. Como “mãe” claro que me toca quando um aluno parte e procura outro professor mas como Professora de Yoga sei que fiz um bom trabalho porque o Yoga despertou, germinou e agora simplesmente mudou de lugar. Assim como uma planta às vezes precisa ser transplantada, mudada de sítio, apanhar uma outra luz ou ar, também alguns alunos precisam de mudar. Não reconhecer essa necessidade é esquecer o meu percurso como aluna e a minha responsabilidade como professora. Na verdade, todos nós como alunos almejamos encontrar o professor perfeito. Na verdade, todos nós como pessoas almejamos sempre mais do que o que temos no presente, olhamos sempre para a relva do vizinho como mais verde que a nossa e nesse momento pulamos a cerca, mudamos e acabamos por desvalorizar o que tínhamos. O tempo se encarregará de mostrar se essa mudança foi de facto necessária ou se foi uma muda, um trasplante precoce. A atitude perante essa constatação vai definir se, como alunos, perdemos o professor ou nos perdemos..

  • O que faz de um professor de Yoga o teu Professor de Yoga?

Não é preciso estar muito atento para perceber que um instrutor de asana, um “self made asana teacher” pode ser uma boa oportunidade de contactar com algo que eleve a auto-confiança, a auto-estima e até dar o “boost” necessário para a responsabilização de uma prática física diária que higienize o corpo mas serão estas pessoas capazes de transmitirem técnicas e vislumbres do que seja essa experiência de realização através do Yoga?

Os instrutores são importantes, eles abrem portas mas quando o Yoga despertar vais sentir necessidade de Professor que conheça a direção, reconheça o teu posicionamento e tenha a experiência e liberdade para te ajudar a caminhar sem fazer do teu caminho a sua conquista.

Este texto não pretende apontar ou criticar escolhas, mas sim partilhar uma perspectiva pessoal sobre o empenho pessoal e profissional que vejo nos Professores de Yoga que dedicam as suas vidas, em exclusivo, ao estudo e partilha do conhecimento védico que traz sustento a uma prática séria, actualmente tornada salubre no conteúdo.

A partilha de uma perspectiva actual de profissionais que durante anos foram reconhecidamente fortes alavancas de grandes mudanças e que actualmente são preteridos não por irrelevante impacto na vida de quem os procurou mas simplesmente por referência financeira ou popularidade nas redes sociais.

A partilha de quem se preocupa em conhecer cada aluno como uma identidade pessoal, familiar e social única e percebe a sua acção com uma responsabilidade, um dever, que ultrapassa os limites da sala de aula.

Encontrar um Professor de Yoga que conheça a tua história, te trate pelo teu nome próprio e se interesse genuinamente pelo teu processo e não apenas pelos 60 ou 90m de aula é de fundamental importância quando perceberes que para evoluir necessitas reconhecer e desafiar os padrões que geram em ti condicionamentos, constantes.

Sou Professora de Yoga. Não sirvo interesses de clientes, sirvo o interesse sincero das pessoas que me procuram e me vêem como uma inspiração no seu caminho. Sou assim porque os meus Professores são assim também e neles encontro a minha inspiração. Eu, mas isto sou eu, jamais condicionaria a minha condição de aluna ao número de seguidores que têm nas redes sociais (alguns só agora têm redes sociais), às fotos que possam postar sobre a capacidade de fazerem alguma postura (não é esse tipo de inspiração que procuro neles), ao valor que definem como justo para a sua transmissão (mesmo que muitas vezes isso me condicione o número de práticas não condiciona a minha lealdade), os seus horários (e às vezes são mais de 4h de diferença).  O meu dharma é ser professora e vejo nesse dharma a responsabilidade incrementada de ser aluna pois só inspiramos crescimento no outro quando nos empenhamos na nossa própria aprendizagem.

Lara Lima
Fundadora do método BMQ, formadora da AMAYUR
Formadora reconhecida pela YOGA ALLIANCE
Terapeuta Ayurveda Sénior
Professora Sénior de Yoga.

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