YOGUI LIFE

UM “COVID” A PARAR

By 02/02/2022 No Comments

UM “COVID” A PARAR

Dia 27 de Janeiro chegou a minha vez de não ser uma COVID excluída.

Passaram 2 anos sobre a pandemia e estava a ver que chegava ao fim com o bicho a negar a minha existência. Tardou mas chegou, finalmente ele demonstrou-se não só democrático como defensor do direito a voto sobre como viveria a minha vida nos próximos 7 dias.

Confirmado o resultado do teste por um exame mais profissional, ou pelo menos uma colheita mais profissional, tinha chegado o momento de comunicar e fechar o círculo à minha volta. A aceitação foi total e os votos carinhosos de rápidas melhoras um aconchego.

Chegava agora a minha vez de receber o vírus e não o deixar muito à vontade. Os vírus são como os hóspedes, ao terceiro dia maçam (diz o meu marido repetindo as palavras do Pai).
Aceitar a presença do bicho no meu corpo foi fácil o mais desafiante seria mesmo ser coerente com o que recomendava aos outros e… parar.

Parar seria sem duvida o mais desafiante. Desligar a tendência quase inconsciente de verificar as mensagens no telemóvel a cada hora, estar com os meus filhos com tempo para sobrar tempo, olhar para a casa e ter tempo de ver o pó sobre o que está parado há demasiado tempo, dormir sem pressa para acordar, estar 24h com o homem que escolhi partilhar a vida e sentir-me grata por estar a seu lado, não fazer planos para além do almoço e jantar, repetir o acordar sem repetir o dia, fazer o caminho que conduz a minha casa sem ter de partir ou chegar, ver os miúdos crescerem e brincarem na casa da árvore que estava até aqui inabitada.

A minha vida acontece muito rápido, muitas vezes sem dar conta. Foi assim que apanhei o vírus, sem dar conta. Esta rapidez arrasta em si um medo latente de parar. Mais ou menos como quando vamos na autoestrada e temos receio de que algo se atravesse e tenhamos de travar a fundo. Esta travagem brusca conduz inevitavelmente a conduzir a atenção para os pés e os pés muitas vezes antecipam o embate.
Fiquei feliz por desta vez ao travar não sentir o embate do medo. Esse medo que sabemos não ter razão para sentir até sentir, e então não saber como deixar de o sentir. Esse temor de ter medo de ver o abismo ao parar inquietava-me e agora que permanecia quieta não encontrava o medo. Foi estranha a sensação de liberdade mas, ao senti-la quase como uma carícia, tive a certeza de ser o resultado de anos de prática e estudo.

Ainda assim permaneci atenta, não seria a primeira vez que me julgando forte no ensinamento sucumbiria aos desejos do ego e à engenhosa mentira da mente sobre um Mundo que depende de mim para continuar.

Há tanto tempo que esperava pelo vírus que acabei por me conseguir preparar para a sua chegada, sempre com um olho aberto pois a verdade é que não conheço bem o que é isto que trago dentro.

Apurei os cuidados e percebi o tanto de cuidados que já vínhamos a ter há anos. A nossa alimentação é fresca, local e simples. As manhãs são saudadas com alegria, gratidão e respirações profundas. O corpo conhece o descanso suficiente mas não a letargia ou preguiça. Os telemóveis sabem manter a distância da família e a televisão só anima os mais novos enquanto os mais velhos tiram o seu tempo de conversa. Os jogos estão espalhados pela casa e os livros namoram-se pelo sofá. No armário dos remédios temos chá, mel e algumas ervas ayurveda que consumimos neste período. O ben-u-ron espreita tímido na ansia de ser escolhido. E foi, duas vezes.

“Não me pareces estar doente, Mummy” – dizem os meus filhos enquanto caminhamos pelos campos ou estendemos a roupa nas cordas do jardim.

“Tenho o vírus mas não estou doente” – respondo, agradecendo os anos de entrega ao conhecimento que me conduziu à mais de uma década a um estilo de vida que sustenta e nutre o meu sistema imunitário.

Passaram os 7 dias.

Sou uma mulher grata por esta visita, podem ler o meu diário e revistar a minha alma que vão encontrar apenas gratidão e não negação de que ele por aqui passou.

Esta é a minha partilha.
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Encontramo-nos pelos caminhos da vida consciente, porque eu bem-nos-quero!

Lara Lima
Fundadora do método BmQ
Sócia e Formadora da AMAYUR – Associação Portuguesa de Medicina Ayurveda (amayur.org)
Formadora reconhecida pela YOGA ALLIANCE
Terapeuta Ayurveda Sénior
Doula Ayurveda
Professora Sénior de Yoga
Método BmQ

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